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"Qual o valor de um artista em nossa sociedade?" - artigo de Gabriela Deptulski

Gabriela Deptulski, autora do artigo. (FOTO: Raul Brandão Sampaio)
Gabriela Terra Deptulski, guitarrista e vocalista da banda My Magical Glowing Lens, publicou o artigo "Qual o valor de um artista em nossa sociedade?", na coluna AT2 Livre, na página 10 da caderno AT2, do jornal "A Tribuna" desta segunda-feira (11). O artigo é uma grande reflexão à respeito do preconceito e dificuldades que enfrentam grande parte dos artistas com relação a seus trabalhos. O OMMC republica o artigo na integra. Leia abaixo:

Gostaria de convidar você, leitor deste jornal, a pensar sobre o valor dos artistas em nossa sociedade. Para começarmos, gostaria de pedir para você imaginar uma situação na qual uma pessoa pergunta a uma escritora: “Com o que você trabalha?”. A escritora responde então: “Escrevo literatura”. Normalmente, a pergunta que se segue é: “Mas você consegue se sustentar com isso?”

As pessoas se referem à situação financeira quando fazem essa pergunta, porque para elas a palavra “sustentar” se relaciona, antes de tudo, com dinheiro. Porém, para outras pessoas, a palavra “sustentação” não tem a ver principalmente com dinheiro.

Pensemos na situação de um artista que leva em conta para sua sustentação não o dinheiro em primeiro lugar, mas sim sua liberdade. Mesmo que esse artista trabalhe em média 10 horas por dia, ainda assim (pelo menos no início de sua carreira) ele vai ser instruindo a procurar outro emprego. Provavelmente isso ocorre porque o trabalho dele dificilmente gerará lucro.

Mas que será que um artista, que trabalha tantas horas por dia, muitas vezes não consegue obter nem mesmo seu sustento? A meu ver, isso ocorre porque um artista se importa muito mais com o que vai expressar do que com a capacidade de venda dessa arte. Em segundo lugar, penso que isso ocorre porque os artistas bem pagos são, em sua maioria, aqueles que reproduzem um tipo de arte que seja rapidamente consumível e altamente vendável.

Artigo de Gabriela Deptulski foi publicado em coluna do jornal A Tribuna nesta segunda (11). (FOTO: Reprodução/A Tribuna)
Estamos em uma crise com relação às artes, na qual a cada vez mais é reafirmado o hábito de consumir apenas o tipo de arte que é exclusivamente criada para ser vendida em larga escala. A parte boa disso é que no Brasil, incluindo o Espírito Santo, encontramos pessoas que incentivam artistas que criam genuinamente; pessoas que conseguem ver o valor que um artista desse tipo tem na sociedade. Mas infelizmente esse número de pessoas ainda é muito pequeno.

Vendo desse modo, a importância do artista que cria genuinamente reside não apenas em entreter os sentidos de uma parcela da população com suas obras originais e irreverentes, mas também na luta contra a ideia de que as pessoas só se realizam obtendo coisas materiais. Ele também tem um valor imenso na luta contra o hábito de consumir apenas o que foi produzido exclusivamente para ser vendido.

Exatamente por isso, talvez o valor mais importante do artista na nossa sociedade é: lembrar-nos que a maior busca de nossas vidas não é o acumulo de bens materiais, mas a paz interna. Somente compreendendo isso conseguiremos algum dia parar com a destruição desenfreada da Terra, gerada pela vontade incontrolável de lucrar.

Talvez seja difícil para uma sociedade materialista compreender a mente abstrata e sonhadora de um artista, por isso mesmo escrevo sobre isso, para convidar todos nós a repensarmos o lugar que damos aos artistas: eles são tão importantes como qualquer outro trabalhador, a única diferença é que ele se importa, antes de tudo, com o mais importante alimento do corpo e da alma: a liberdade.

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