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Amor pelo forró: capixabas dançam ao som da sanfona, do triângulo e da zabumba

Amado e idolatrado, o forró chegou e ocupou espaço em muitos corações. Na Grande Vitória, esse ritmo agita as casas de festas e, por isso, a procura por escolas de dança cresceu nos últimos anos. O ritmo veio do Nordeste no século XIX e se popularizou pelo Brasil. Itaúnas, norte do Espírito Santo, é o "point" do forró em terras capixabas.

Multidão em Itaúnas na 18ª edição do Festival de Forró de Itaúnas (Fenfit) em 2018. (FOTO: Divulgação/Fenfit)
A Vila de Itaúnas é uma terra de belezas e de calmaria. Conhecida nacionalmente por promover todos os anos no mês de julho o Festival de Forró de Itaúnas (Fenfit) e, desde de 2001, ela é considerada a Capital Internacional do Forró, segundo o site oficial do Fenfit. 

Durante todo ano, a cidade recebe muitos visitantes, porém, no mês do festival esse número aumenta. A Vila, como é chamada, possui restrições de número de pessoas por fazer parte da reserva da biosfera da Mata Atlântica.

Segundo o historiador Matheus da Silva Nascimento, o ritmo surgiu pelas cantigas populares, na levada da viola, nos compassos das palmas e se popularizou com a figura do cantor e do compositor de forró Luiz Gonzaga. Para Matheus o forró é, antes de tudo, um ritmo musical que originou vários sub ritmos e muita dança, como o forró pé-de-serra e o forró universitário. 

Composto por instrumentos musicais que o caracterizam, a sua variedade ganha vida com a simplicidade do triângulo, da sanfona e da zabumba. No sertão nordestino, tanto o ritmo, como a dança se tornaram algo cultural e único.

Aos poucos, o forró foi "achegando" na Grande Vitória e se tornando presente no dia a dia das pessoas. Até quem não sabe dançar, se arrisca. Da Silva Nascimento relatou que o forró se tornou mais evidente por volta de 2012, com a criação do evento "Forró do K1", realizado na Quiosque 1 da Praia de Camburi, em Vitória. 

A evidência foi devido a visibilidade que o local proporcionava por ser aberto e no calçadão da praia. Muitos jovens se familiarizaram com a simplicidade do ritmo. "Mesmo quem não iria para dançar, ficava no calçadão ou na areia curtindo o som e vendo a galera", conta.

Fácil de gostar e sem tabus, o ritmo não exige roupas especificas, nem obriga ninguém a dançar e, por isso, conseguiu encantar tanto os capixabas. Após o fechamento do K1, as casas de festas abriram as portas para o gênero, dando espaço também para as bandas capixabas, o que tornou o termo "raiz" ainda mais vivo. Com o crescimento gradativo de eventos, os capixabas queriam mais do que só ouvir, queriam dançar. Atendendo a demanda da procura, o surgimento de projetos e escolas de dança aumentaram.


O professor de dança de salão André Faria Silva durante uma das aulas. (FOTO: Pollyana Cuel)
O professor de dança de salão André Faria Silva, 37 anos, explicou que, devido a fixação do forró no Espírito Santo, existe um aumento no interesse das pessoas pelas aulas de dança. 

Segundo ele, a procura é maior pelo público masculino, apesar da resistência. É o cavalheiro que conduz a dama, tornando a execução dos passos algo mais fácil para elas. Para ele, o forró deu a oportunidade para as pessoas se socializarem e aumentarem o contato físico.

Para André, os jovens fazem parte do grupo que mais cresce no forró. O professor afirma que principalmente o forró pé-de-serra está muito enraizado no Espírito Santo como um todo, relembrando o fato de Itaúnas ser a capital do forró. Contente, o professor ressalva sobre o aumento do forró nas casas de show da Grande Vitória. "O forró pé-de-serra não é uma moda passageira. Veio para ficar e se estabelecer no coração capixaba", garante.

Amor
Para a estudante Isabela Santana Gemeias, 19, o forró é exatamente como o professor André descreveu: algo de coração. Tão apaixonante que fez ela encontrar até o amor. Isabela conheceu o ritmo e se encantou na primeira viagem para Itaúnas. Como é relatado por muitos, quem vai uma vez a terra do forró, nunca mais quer sair. "Acho que o forró é alegria, é conexão e, principalmente, amor. Amor à música e amor à dança", afirma Isabela.


Isabela Santana afirma que conheceu o forró em Itaúnas e logo ficou encantada com o ritmo (FOTO: Pollyana Cuel)
Para Isabela, o amor que ela sente pelo forró foi além disso. A estudante contou que em 2017 foi para Itaúnas para passar a virada do ano. No dia 30 de dezembro, em uma das casas mais populares na Vila, Padaria, mais conhecido como "Forró da Padaria", um lugar gratuito, a estudante foi dançar e se deparou com o namorado. Eles dançaram naquele dia e, desde então, estão frequentando os forrós e ainda dando aulas em um projeto.

Não precisa saber dançar
O forró é um ritmo democrático e que atende as expectativas de variados públicos. Se engana quem pensa que para gostar do ritmo a pessoa é obrigada a saber dançar. Quem ouve forró também se anima ou se acalma. Independente do que sente, o ritmo toca cada um de uma forma diferente. 

As músicas são as maiores responsáveis por despertar nas pessoas sensações. O músico falecido Beethoven disse: "a música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que a inebria".

A estudante Pietra da Rosa Locatelli, 21, não sabe dançar o forró por sentir vergonha e, às vezes, falta de vontade. Apesar disso, ela gosta muito de ouvir. Segundo a estudante, o momento que se encaixa melhor para isso é quando ela vai à praia. 

Os pais e a família de Pietra escutam forró desde de quando ela era criança e, por isso, é um ritmo tão agradável para ela. "Eu gosto muito de escutar forró. Ele me acalma. Já dançar, não gostei muito. Mas ouvir é bom", diz a estudante.

O motivo do forró conquistar até quem não gosta de dançar e também pessoas que escutam outros ritmos está justamente na variedade do som calmo ou rápido das músicas. O compositor e cantor da banda Trio Clandestino, Maik Sullivan, 40, explica que cada música deles possui uma história e levam um sentimento ou uma fase da vida, fazendo com que as situações e as emoções passadas possam vir a ser parecida com algo que o ouvinte também possa ter sentido.

Sullivan afirma que a democracia no forró existe. As pessoas podem frequentar os shows durantes anos e não precisar necessariamente dançar. O forró é também um meio de socialização. Por meio dos eventos é possível fazer amizades. 

Mesmo quem não frequenta as festas, sente-se abraçado pelo ritmo e, assim, da mesma maneira que Pietra, traz sentimentos positivos e boa energia. "Tenho amigos que frequentam o forró há anos e nunca dançaram. Contudo os que dançam tem um gás e uma energia muito mais intensa e empolgante. Acredito que isso é causado pela dança. Para mim isso é o complemento chave da música".

O músico Douglas Vidals dos Santos, 29, explicou que o ritmo é formado pela harmonia que mexe com a inteligência e acompanha a melodia. A melodia balança com o sentimento, o que remete a lembranças. Já o ritmo, que agita o corpo, é a batida da música. 

As diferentes formas de absorver a música pelas pessoas fazem com que elas tenham sensações diversas. "O elemento que torna o forró bom de se ouvir é o ritmo. E é o ritmo que torna a música alegre e dançante", lembra.

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