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História: cinemas de rua marcaram época no Espírito Santo

Atualmente é comum frequentar os cinemas com suas tecnologias no interior dos shoppings centers. Mas antigamente, os cinemas eram grandes edificações localizadas nas ruas e se tornaram os principais lugares de consumo de cultura e ponto de encontro de jovens, adultos e crianças.

Os cinemas de rua marcaram época no Espírito Santo, a exemplo do Cine Glória, no Centro de Vitória, iniciado em 1932; o Cine Capixaba, em Vila Velha, da década de 50, entre diversos outros no período de 1901 a 1980.

O Cine Glória visto do Theatro Carlos Gomes, em 1950. (FOTO: Acervo José Tatagiba)
Frequentar os cinemas de rua para esperar reduzir o trânsito na volta de Vitória para Vila Velha, que tinha como única ligação a ponte Florentino Avidos ­­­— conhecida por Cinco Pontes, até o fim dos anos 80, era o que fazia Valdir Ferreira, 63 anos, que na época trabalhava na região da Avenida Vitória.

"Lembro que tinham uns seis cinemas na região do Centro de Vitória. Sempre saia do trabalho e ia para o cinema enquanto esperava diminuir o trânsito, já que naquela época não tinha Segunda e Terceira Ponte", conta.

Em Vila Velha, Ferreira relembra das vezes que ia ao Cine Aterac, que ficava em frente a praça do Ibes, e também do Cine João Lopes, que existiu em Aribiri, na estrada Jerônimo Monteiro, em frente da linha do bonde.

"Fui muitas vezes nos cinemas do Ibes e do Aribiri. O Cine Aterac era do Careta (Ruben Careta), que ao contrário é 'Aterac'. O filho dele foi professor meu. O Careta tinha cinemas em outros locais também", afirma.

O Cine Aterac, que funcionou por cerca de 20 anos no bairro Ibes. (FOTO: Acervo Família Careta)
Cinemas de rua pelo Estado
A tradição capixaba do cinema começou com mostras itinerantes em circos e galpões, até que, no Theatro Melpômene, em agosto de 1901, o Biographo Lumiére veio até Vitória apresentar "as mais modernas aplicações da fotografia e da eletricidade", como descrito em nota do Jornal do Comércio do Espírito Santo.

Até por volta dos anos 80, o Estado teve cerca de 106 cinemas de rua em todas as regiões. A maior parte dos cinemas de rua não resistiu e, a partir do início da década de 1990, começou seu declínio.

Resistência
No início de 2008, o Cineart Glória, na Avenida Ministro Salgado Filho, em Vila Velha, foi reformado e, em março, reinaugurado com grandes expectativas de melhoras em sua programação de filmes, que, além de cinema, abrigaria outros eventos culturais. Porém, logo após sua reabertura, em abril, o Cineart foi fechado definitivamente para se tornar uma igreja evangélica.

O Cineart Glória se tornou um símbolo de resistência por ser o último cinema de bairro da Grande Vitória. Depois de 55 anos como ponto de entretenimento e cultura, a sala foi alugada para tornar-se um templo religioso.

Segundo o último administrador do Cineart, o cineclubista Marcos Valério Guimarães, numa entrevista em 2008, “a sala parou de funcionar em abril de 2008. No entanto, tínhamos fechado em setembro de 2007 para reformas e reabrimos em março do ano seguinte. O problema foi o período em que reinauguramos – na entresafra de lançamentos. Além da dificuldade de conseguirmos cópias desses filmes”, o que torna a concorrência, com as salas de shoppings, desleal.

O Cineart funcionou antes com os nomes de Cineteatro Garoto, por patrocínio da Chocolates Garoto nos anos 90, e Cine American, quando surgiu nos anos 50, com a família Careta, próximo ao loteamento onde hoje é o bairro Soteco e ao Aeroclube, que funcionou na Glória entre 1956 e 1984.

Fachada do Cineart, na Glória, pouco antes de encerrar suas atividades em 2008. (FOTO: Reprodução)
Alguns dos cinemas de rua do Estado:
Melpômene (Vitória): Inaugurado em maio de 1896, o Theatro Melpômene ficava no antigo Largo da Conceição, na Praça da Independência, atualmente Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória. Este teatro foi o primeiro, de acordo com os mais antigos arquivos disponíveis, a equipar-se da máquina dos irmãos Lumière no Estado. 

Segundo a imprensa local o teatro possuía iluminação própria, era todo em madeira, com 800 lugares e possuía camarotes, poltronas e cadeiras para a plateia.

Durante a exibição de um filme, ocorreu um princípio de incêndio que causou um imenso tumulto e deixou dezenas de pessoas feridas e dois mortos, segundo o jornal Folha do Povo, de 9 de outubro de 1924. Após o ocorrido, a estrutura foi vendida a André Carloni e anos depois foi construído o Theatro Carlos Gomes.

Fachada do Melpôneme em 1900. (FOTO: Acervo Iphan-ES/CAR-Ufes)
Cine Theatro Carlos Gomes (Vitória): A inauguração deu-se a 5 de janeiro de 1927 como o filme Que Farias Com Um Milhão?. Em 10 de novembro de 1929, a empresa Santos e Companhia assinou contrato de arrendamento com o proprietário para ali instalar o cinema falado, que começou em 20 de dezembro de 1929. Em 1933, André Carloni vendeu o teatro ao governo do estado, a quem pertence até hoje.
Éden (Vitória): Da companhia Camões e Mayo, foi inaugurado em 13 de janeiro de 1907. O local era todo de madeira e coberto de folha de zinco com capacidade para 150 pessoas. Funcionou até a década de 20.
Cine Central (Vitória): De propriedade dos sócios da empresa Santos e Companhia, ficava na região da : Praça Costa Pereira, no Centro de Vitória. Funcionou entre 1921 e 1935, tendo capacidade para 600 pessoas.
Cineart (Vila Velha): Fundado por Ruben Careta em 6 de maio de 1956, com o nome de American, tendo funcionado até 28 de fevereiro de 1981. Reabriu nos anos 90 como Cineteatro Garoto, e funcionou até abriu de 2008.
Cine Glória (Vitória): Fundado por Danilo Cerqueira Lima em 20 de janeiro de 1932. O espaço ficou fechado por muitos anos e reabriu como Centro Cultural Sesc Glória, não tendo  mais exibição de filmes.
Aterac (Vila Velha): Fundado por Ruben Careta em 14 de maio de 1965. Anagrama do nome Careta, de trás para frente. Localizado no Ibes, em frente a praça Assis Chateaubriand, e funcionou até os anos 80.
Politeama (Vitória):  Foi inaugurado em 21 de outubro de 1926, na Avenida República, num barracão de zinco localizado no Parque Moscoso e era dividido em duas partes: o ingresso da geral que custava seiscentos réis e a cadeira que custava mil e duzentos réis. Antigos freqüentadores afirmam que os meninos vibravam com os seriados e os filmes de faroestes. Funcionou até a década de 1950.
Cine Santa Cecília (Vitória): Na década de 50, uma das salas considerada um palácio cinematográfico da cidade de Vitória foi o Cine Santa Cecília, no período considerado de ouro das salas de cinema no Espírito Santo. Foi inaugurado em 21 de setembro de 1955 com o filme: Sete Noivas Para Sete Irmãos (1954). O Cine Santa Cecília era o maior do estado, com capacidade de 1.453 lugares e situava-se na Avenida República, junto ao Parque Moscoso, onde antes funcionava o Cine Politeama. Funcionou até os anos 90.

Prédio onde funcionou o Cine Santa Cecília se tornou igreja evangélica. (FOTO: Acervo José Tatagiba)
Mestre Álvaro (Serra): Fundado por Aurélio Massariol. Funcionou entre 1940 e 1965.
Cine Hollywood (Cariacica): Fundado por Ruben Careta em 14 de junho de 1958. Funcionou até 28 de fevereiro de 1981. Chegou a reabrir em 1982.
Rox (Afonso Cláudio): Fundado por Ruben Careta em 2 de janeiro de 1972. Funcionou até 30 de junho de 1980.
Popular (Alegre): Fundado por Felício e José Alcune. Funcionou entre 1915 e 1919.
Fontes: Blog Boca do Lixo, portal Morro do Moreno, blog Salas de Cinema do ES e "Cinema no Espírito Santo: um estudo de caso sobre o fechamento das salas".

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