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Entrevista: Ariel Morena homenageia a mãe no clipe de "O Tempo Voa"

Uma homenagem a própria mãe e a todas as mães. Esse é o objetivo da música O Tempo Voa, da cantora e compositora Ariel Morena. É que o Dia das Mães não é mais o mesmo para a capixaba de Vila Velha desde 2013 quando perdeu a mãe Ângela Maria dos Santos em um acidente de trânsito. 

O Tempo Voa é a terceira faixa do projeto autoral Na Beira do Rio. É uma música do gênero pop cuja letra fala sobre força e superação de tempos difíceis com positividade e confiança. Ariel contou detalhes do novo trabalho e de sua história de força e superação em uma entrevista exclusiva ao O Melhor da Música Capixaba.

Ariel Morena com fotos de momentos com a mãe e o irmão. (FOTO: Bruno Leão)
A cantora conta que apesar de carregar um conteúdo pesado na letra e na imagem, a música com referência do Vitor Kley (RS), é bem leve, animada e positiva.

A música será lançada nessa semana do Dia das Mães, nas plataformas digitais de áudio a partir de 0 hora de sexta-feira (7), e o videoclipe com a homenagem estreia às 12 horas do mesmo dia, no canal de Ariel no YouTube. O pré-save está disponível. Além disso, no IGTV no Instagram está disponível a websérie O Tempo Voa, com três capítulos, onde a artista em primeira pessoa sua história de vida e na música.

ENTREVISTA
Ariel Morena, cantora e compositora
OMMC - Pode contar um pouco da história da sua mãe e explicar como ocorreu a morte dela? O crime ficou impune?
Ariel Morena - Minha mãe, Ângela Maria dos Santos, faleceu no dia 6 de julho de 2013 atropelada por uma motocicleta ao atravessar a Rodovia do Sol, na esquina com a rua do antigo boliche de Vila Velha. A gente morava ali próximo na época. Testemunhas disseram que o celular dela caiu no momento em que ela estava atravessando a primeira pista, e ela voltou para buscar. Estava de noite já, escuro, e nessa hora foi atingida pela moto. O motociclista era uma pessoa jovem, estava embriagado mas ele recusou a fazer o teste do bafômetro. Cheguei no local do acidente poucos minutos depois de acontecer, pois eu estava em casa. Alguém que estava lá na hora me ligou do celular dela e eu fui correndo. Éramos só nós duas. Nesta época meu irmão estava preso. Na hora que eu cheguei lá e vi ela bem machucada, com fraturas expostas. A ambulância tinha acabado de chegar e estavam prestando os primeiros atendimentos. Eu só me lembro de me preocupar com ela, não lembro nem do rosto do motociclista para falar a verdade. Entrei na ambulância com ela e fomos para o hospital. Ela morreu quatro horas depois do acidente e eu nunca mais vi o motociclista. Os policiais que atenderam a ocorrência aliviaram bem a barra dele no registro e eu fiquei sem ter o que fazer para correr atrás de justiça. Sei que ele nem chegou a ser preso. Nunca mais vi ou ouvi falar. Recentemente houve o caso da jovem Amanda que também perdeu a vida no trânsito (Amanda Marques Pinto, 20, morreu em um acidente na noite de 17 de abril, na Avenida Darly Santos, em Vila Velha) e que o condutor que atropelou ela estava mega embriagado e também ficou impune por conta da conduta dos policiais que atenderam e fizeram um registro leviano do caso. É bem complicado.  Precisamos de uma polícia de fato comprometida em ajudar a sociedade e as vítimas e não os agressores, o que não tem sido o caso no nosso Estado.

OMMC - A música O Tempo Voa é uma homenagem a sua mãe? É também uma forma de protesto e pedido de justiça pelo que ocorreu?
Ariel Morena - Eu diria que a música, a letra em si, é mais uma mensagem de força para tempos difíceis. A homenagem para minha mãe está mais explícita no videoclipe, porque conta a história deste dia em 2020 em que eu resolvi voltar ao local do acidente e plantar uma árvore, simbolicamente plantando vida, no local em que ela perdeu a vida, como forma de homenageá-la mas também de protestar pelas vidas que são perdidas no trânsito diariamente. Junto com a árvore eu finquei uma placa com uma mensagem que dizia "Dia 06/07/2013 a minha mãe perdeu a vida ao atravessar esta esquina. Hoje, sete anos depois, planto vida em memória dela e de todas as vítimas do trânsito. Onde quer que estejam, floresçam".  Assim todo mundo que passou por ali durante o período em que a árvore estava plantada, pôde ler e de certa forma se conectar com essa energia que eu quis mandar pra minha mãe e com esse protesto silencioso pelas mortes no trânsito. Isso pois cerca de dois meses depois arrancaram a árvore do lugar. Então resolvi plantar outra árvore de forma simbólica, dessa vez no meu condomínio para não correr o risco de ninguém mais arrancar. E aí eu pensei: "por que não documentar essa ação tão especial com meu primeiro videoclipe e lançar no Dia das Mães?" Tenho certeza que a minha história tem o poder de inspirar outras pessoas que também sofreram com a dor da perda e por muitos anos o Dia das Mães foi uma data muito difícil pra mim. 

"Agora estou ressignificando e tornando essa data especial de novo para mim e para todas as pessoas que se sentirem conectadas com a letra e com a história por trás"

OMMC - A música também é uma lembrança do desaparecimento do seu irmão. Onde buscou forças para superar essas duas situações?
Ariel Morena - Nesse período de 2013 até 2020 muita coisa aconteceu na minha vida. Quando minha mãe faleceu eu tinha acabado de passar para cursar Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estava muito feliz e animada com esse futuro que me esperava dentro da universidade e com sonhos latentes que basicamente foram o que seguraram a minha onda durante todos esses anos. O meu irmão nessa época já estava envolvido em complicações com a justiça e com a vida na rua. Quando minha mãe faleceu fui morar sozinha em repúblicas próximo a universidade, arrumei meu primeiro estágio dentro da produção de eventos e basicamente o trabalho e a faculdade foram o que me sustentaram. Sempre tive o sonho de cantar, mas nessa época ainda era utopia para mim, eu precisava trabalhar para me sustentar e eu estava tendo boas experiências e me apaixonando pelo mundo dos eventos, pelo mundo da produção. Em 2015 quando foi de fato a última vez que vi o meu irmão, ele estava na rua, meu pai levou ele para casa e ele fugiu nessa noite e nunca mais deu notícias. Até então ele ligava, depois disso nunca mais. E eu fui seguindo a minha vida, sempre soube que eu queria mais para mim. Queria viver, me formar, trabalhar, ter minha própria casa, reconstruir uma família para mim, viver minhas próprias perspectivas. Sempre fui muito ligada às minhas tias que vivem fora - em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro -, e que sempre me ajudaram muito e assim eu fui vivendo um dia após o outro. Sempre foi muito difícil lidar com a dúvida e com a cobrança do que aconteceu com ele. Pedro era meu irmão mais velho, mas parecia o contrário na prática. Então até hoje é muito difícil comer alguma coisa e não saber se ele está comendo. Deitar a cabeça no travesseiro e não saber se ele está vivo ou morto. Mas eu escolhi não parar minha vida para ir atrás dele, afinal ele caminhou para esse destino com as próprias pernas. Hoje eu tenho grupo de buscas, faço visitas periódicas a Institutos Médicos Legais (IMLs), polícia e tudo mais e vou fazendo o que posso para ir atrás da resposta. Sei que um dia ela irá chegar para mim e para minha família. 


OMMC - Como foi o processo de composição de O Tempo Voa?
Ariel Morena - Vejo a escrita como um processo de cura, de força e de autoconhecimento e que nos ajuda a entender e expressar nossas questões. O Tempo Voa nasceu desse processo de escrita em 2020. Logo após fiz o plantio da árvore para minha mãe. Eu estava em casa ouvindo uns beats e eu ouvi o beat que foi referência dela e o refrão veio praticamente pronto na minha cabeça. Eu estava me sentindo leve e bem por ter cumprido com a minha intuição de fazer o plantio e essa ação me preencheu de uma força que eu acho que consegui traduzir bem na letra da música. Ao contrário do que se pensa quando pega uma história pesada com inspiração, eu queria uma música forte mas leve e feliz e foi bem assim que ela ficou. Positiva. Assim como pegar a dor de uma morte e transformar na vida de uma árvore, pude pegar a dor das minhas perdas e transformar em uma canção que fala de positividade e de que apesar de todos os pesares, a vida é boa e que quando a gente escolhe o caminho do bem, do bom e do belo, podemos fazer coisas incríveis com a nossa história.

"O Tempo Voa é um canto de força para mim, para você e para todos os seres"


Ficha técnica
Música: O Tempo Voa
Data de lançamento: 7 de maio
Produção executiva, figurino, roteiro, letra e interpretação: Ariel Morena (@arielmorena)
Beauty: Lilo (@aoliloeacores)
Fotografia: Bruno Leão (@brunaoleao)
Direção de vídeo: Danilo Zeppelin (@danilozeppelin)
Produção musical: Hugo Paraízo (@hugoparaizo)
Gravação: Braza Estúdio Criativo (@brazaestudio)

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