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Pintor registra belezas de Cariacica em pinturas impressionistas ao ar livre

Pintor registra belezas de Cariacica. (FOTO: Claudio Postay)
Uma cena inusitada chamou a atenção e despertou a curiosidade nas redes sociais de quem percorria as vias de Cariacica no último mês de novembro. De repente, lá estava um homem pintando paisagens, pontos turísticos e monumentos históricos da cidade, ao ar livre. Foi assim na BR 262, na altura da Estação Pedro Nolasco, em Jardim América. Ou na Rodovia José Sette, de frente ao templo da Fraternidade Tabajara, no bairro Tabajara. Munido de tela, pincel, paleta de cores e cavalete, Jonas da Conceição, 38 anos, artista autodidata, executava suas obras, enaltecendo lugares de referência do município.

A ação faz parte do projeto “Cariacica retratada por fotos, desenhos e caricaturas”, que ganhou recursos na ordem de R$ 22.500,00 através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura João Bananeira, da Secretaria Municipal de Cultura (Semcult). Conceição deve entregar 50 telas para uma exposição com previsão de abertura até a segunda quinzena de dezembro. O local ainda será definido.

Esse morador de Porto Novo segue os passos dos artistas impressionistas. Assim como os franceses Monet (1840-1926), Degas (1834-1917)  e Renoir (1841-1919), criar ao ar livre era fundamental. “Gosto de captar na tela as mudanças da luminosidade à medida que o dia avança. A luz de cada local é única. Era por isso que eu tinha que estar lá”, explica, enquanto dá uns retoques na tela da igreja de São João Batista, postado com seu equipamento na praça Marechal Deodoro, em Cariacica Sede. “Eu admiro esse estilo e os mestres franceses porque eles libertaram a pintura da obrigação de retratar fielmente um objeto ou uma paisagem. Numa tela impressionista, você reconhece o tema bem definido à distância. Mas, quando você se aproxima do quadro, percebe que aquela imagem é feita a partir de algo bem particular do artista. Não são linhas precisas e desenho rígido, são impressões de tinta”, explica.

Além dos monumentos e lugares já citados, também estão registrados a orla de Cariacica, o estádio Kleber Andrade, o Palácio Municipal, o Monte Mochuara e as corredeiras de Maricará. Uma roda de congo de Roda d’Água também entrou no acervo. “Com a pintura, eu espero que as pessoas sintam orgulho e curiosidade por essas cenas da própria cidade onde vivem. Nós vivemos mergulhados em imagens, já estamos acostumados com esses prédios. Mas esses mesmos prédios, captados numa tela num estilo diferente, despertam a curiosidade e, naturalmente, a pessoa vai vê-los sob outro ponto de vista quando passar em frente novamente”, acredita.

Jonas se inspira na escola impressionista de pintura e capta as mudanças de luminosidade ao longo do dia em suas telas. (FOTO: Claudio Postay/PMC)

A questão da autoestima de viver em Cariacica levou Conceição a ir para a rua e fazer uma série de retratos com quem estivesse disposto a ser modelo. “Eu organizei minha semana entre a pintura das paisagens e a confecção de retratos. Muitas pessoas abraçaram a ideia e ficavam surpresas quando eu dizia que era daqui e queria retratar as nossas belezas. Mais uma vez, acho que a arte tem o seu papel na busca de resgatar o nosso orgulho de nascer e viver aqui”, reforça.

Navio negreiro
Jonas da Conceição cresceu com a mãe que era artesã de mão cheia. Ele a acompanhava quando ela manipula um tear de esteira. Ele começou desenhando e a mãe sempre o incentivando. Aos 20 anos, resolveu colocar a atividade como empreendedorismo. Passou a fazer retratos por encomenda e a atuar na Praça dos Namorados em Vitória. Paralelamente, descobriu que gostava também de esculturas.

O maior desafio foi concluído em 2013, quando ele entregou  34 estátuas de fibra de vidro e resina, em tamanho natural, baseados na vida de escravos africanos. A série de esculturas “O Navio Negreiro” foi adquirida pelo Museu Intercontinental África-Brasil, em São Mateus, Norte do estado, ainda naquele ano. Ele lembra que este trabalho exigiu muito dele. Algumas estátuas pesavam 60 quilos.

Assim como as telas de Cariacica, pintadas, em algumas ocasiões, debaixo de chuva. “Mas isso é que torna a gente mais satisfeito com o que produz. A arte não é aquela tranquilidade poética que muitos acreditam. Quando o processo de criação é desafiador aí é que você se entrega mais pois é a sua marca que fica”, finaliza.

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