Pular para o conteúdo principal

Cultura utilizada como forma de críticas com temas sociais

Diferente do que é exposto no filme 1984, de história baseada no clássico de George Orwell, atualmente a literatura e cultura em geral é utilizada para críticas sociais ao poder político. No longa-metragem existe o controle da sociedade por parte do governo com toda a população tendo que concordar sem poder se opor em nenhuma questão aos mesmos. 

Os jornais e livros eram reescritos e mentiras se tornavam verdades com o intuito de sempre manter o mesmo partido no poder.

José Celso Cavalieri afirma que sua companhia teatral aborda temas sociais nas peças. (FOTO: Gustavo Andrade/OMMC)
Hoje, no Espírito Santo, apesar da pouca valorização da cultura, a literatura e o teatro, por exemplo, tem se utilizado dos poucos recursos oferecidos e muitas vezes próprios para abordar temas sociais que o poder público deixa no esquecimento. 

As peças teatrais são bastante desvalorizadas, sem divulgação em mídias de grande alcance e esses fatores restringem as companhias de teatro de realizarem maiores críticas ao meio político.

Segundo o diretor de teatro José Celso Cavalieri, que comanda a Cia Teatral JC, são realizadas críticas sociais no teatro, mas sem deixar claro o viés político. “Poucas companhias de teatro são contempladas, devido ao baixo número de editais de incentivo à cultura e a pouca acessibilidade, portanto são poucas a fazerem críticas sociais”, afirma Cavalieri.

Apesar disso José Celso conta que sua companhia, que tem 16 anos, desde o final de 2006, aborda temas sociais. “Nos últimos quatro anos tenho trabalhado temas sociais tipo, discriminação e acontecimentos reais, portanto vejo críticas sociais, sem deixar transparecer o lado político”, resume.

Em suas peças, o diretor de teatro já apresentou personagens com diversos temas sociais. Desde os discriminados, passando pela homossexualidade, pela vida de menores infratores em presídios, pela questão da esquizofrenia, ao ser humano se vendendo como em um leilão. 

Uma de suas peças em cartaz atualmente é a Confissões no Crematório, que conta a história de personagens que tiveram a vida interrompida antes da hora e muitas vezes não são contemplados pelas políticas sociais. “Tem o caso do policial, da mulher traída, do suicida da Terceira Ponte, do psicopata, do aborto, entre outros, todos problemas sociais com críticas sociais”, adianta.

A peça esteve em cartaz no Teatro Municipal de Vila Velha no último dia 23 de março e no Festival de Teatro de Curitiba/PR na última terça-feira (2) e quarta-feira (3).

Anaximandro diz que a literatura traz uma série de vantagens, tais como estímulo ao imaginário e à criticidade. (FOTO: Divulgação)
O escritor Anaximandro Amorim, que é autor do livro A Vida Depois da Luz, em que conta a própria história em meio a um acidente automobilístico, afirma que a arte em geral sempre encontrou formas de driblar a censura. 

"Literatura, antes de mais nada, é uma forma de comunicação. A história das Letras é farta em exemplos e autores engajados politicamente e eu vejo com bons olhos quando o escritor resolve usar do livro como veículo para a sua militância. Ademais, a arte, em geral, sempre se mostrou um 'foco de resistência', driblando o jogo da censura, em muitas épocas, sobretudo quando do controle aos meios midiáticos", explica.

O também escritor Adriano Lima Neves, autor do livro Leopoldina, a Santa que existe em nós - Crônicas de um menino do porto, que deu origem ao documentário de mesmo nome, diz que considera a literatura como uma ferramenta de fortalecimento da democracia. 

"Nesse contexto democrático, lhe é permitida a emissão de opiniões diversas, sejam favoráveis ou contrárias ao regime. E a liberdade de expressão na literatura traz a possibilidade de acesso a informações reais, sem a interferência e a triagem que há nos regimes totalitários. Embora estejamos vivendo um fenômeno chamado fake news, a literatura, como ferramenta artística, tem o seu papel de fomentador da consciência coletiva, tornando o leitor mais capacitado para identificar aquilo que é feito para manipular e o que é realmente uma informação que deva ser absorvida como verdade", conclui Neves.

Comentários

Mais lidas

Linha do tempo da Chocolates Garoto

Com atrações capixabas e de seis países, Santa Jazz está confirmado para junho

Morre atriz mirim capixaba do filme "Helena", com cenas gravadas em Vitória