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MUG é campeã do Carnaval de Vitória com desfile nos trilhos da história de Colatina

As referências à Princesinha do Norte que ganharam o Sambão do Povo do início ao fim do desfile da Mocidade Unida da Glória (MUG), levaram a escola de Vila Velha e quinta agremiação a desfilar pelo Grupo Especial no Carnaval de Vitória ao título.

O resultado da apuração foi divulgado no início da noite desta quarta-feira (15). A vermelho e branco homenageou a cidade de Colatina, que completou 100 anos de emancipação política em 2021.

Locomotiva foi o carro abre-alas da MUG no Sambão do Povo. (FOTOS: Gustavo Andrade/OMMC)
O enredo "A caminho das terras do Sol Poente", assinado pelo carnavalesco Petterson Alves, que tem uma história de muitos capítulos e títulos com a MUG, usou da irreverência e da licença poética carnavalesca para cantar fatos, causos, histórias, tradições e curiosidades colatinenses.

O carnaval de 2023 foi o retorno dele à agremiação com quem já havia escrito uma história de 10 anos. Após oito carnavais distantes, Petterson voltou a assinar o desfile da MUG. "É um mix de emoções. Foram oito anos fora de casa e agora estamos, mais uma vez, com um grande desfile, muito dourado, vermelho e branco. Apostamos no nosso trabalho para sermos consagrados. A surpresa do desfile é o primor em cada fantasia em cada detalhe de cada alegoria. O nosso leão vem diferente!", disse no dia do desfile.

O desfile da MUG:
1572 - Luta, bravura, vitória. A tentativa de colonizar
A escola, que foi vice-campeã do carnaval em 2022, convidou os foliões a embarcarem em sua Maria Fumaça com destino ao Noroeste do Espírito Santo. Na comissão de frente, "Atenção! O tempo é passageiro", o coreógrafo Marcelo Lages levou leões bilheteiros junto a um condutor dessa viagem.

Uma viagem ao passado para contar a história da colonização do vale do rio Doce, habitado por tribos indígenas da etnia Botocudos. A busca pelo ouro levou os primeiros exploradores à região. Um dos símbolos da cidade, o pôr do sol, inspirou a fantasia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Hudson Maia e Klaura Costa.


1899 a 1906 - Sob a Influência das raças
No segundo setor da escola, a miscigenação e a homenagem à Colatina Soares de Azevedo, que foi primeira-dama do Espírito Santo, casada com o governador Muniz Freire. As baianas da escola, com a fantasia "Dama de vanguarda" marcada pelo vermelho, uma das cores da escola, passaram rodopiando com muita elegância e portando sombrinhas de renda na passarela do samba. Na ala, a mais experiente era dona Penha de Castro, com 75 anos e muito amor pela escola.

A ala do passo marcado, coreografada por Magno Encarnação, entrou no Sambão com três fantasias diferentes, representando indígenas, negros e brancos, as três etnias que se encontraram no vale do Rio Doce e formaram a população da cidade.

"A gente entrou na avenida para fazer um espetáculo e fizemos. O Carnaval de Vitória é a realização maior do mundo do samba no Espírito Santo, tem que respeitar a nossa folia", afirmou.

Tradição da escola de Vila Velha, o carro abre-alas veio imenso, com duas partes acopladas, formando uma belíssima Maria Fumaça, que atravessou o destino de Colatina com a chegada da estrada de ferro Vitória-Diamantina, que mais tarde seria expandida e se tornaria a estrada de ferro Vitória-Minas, ativa até hoje.

1906 a 1921 - Ecoam o Progresso, as Revoltas e Revoluções
A vila, que tinha sua sede em Linhares, foi crescendo e, com ela, o desejo de se emancipar. Para contar esse período de história, a escola levou para a avenida a revolta de Xandoca, que chegou a transferir a capital do Espírito Santo para Colatina, além da representação dos coronéis da República Velha. Os passistas, "Jagunços de Calmon", encarnavam os personagens que garantiam o chamado voto de cabresto, fazendo vencer as eleições os escolhidos pelos coronéis.

Reinando absoluta à frente de seus ritmistas, Fernanda Figueredo estava vestida de "Dormentes do progresso", com a missão de preparar os caminhos para o progresso de Colatina. Sua majestade também desejava levar a Pura Ousadia às notas 10 dos julgadores. Conduzidos pela dupla de mestres Lucas Massariol e João Henrique Azevedo, os componentes estavam vestidos de maquinistas e mantiveram a bateria da escola a todo vapor durante todo o desfile.

Com a boa fase econômica, imigrantes e colonos desembarcaram na vila que, em 30 de dezembro de 1921 se tornou município.

O tripé "Pilares da economia" representou a primeira fase de desenvolvimento da cidade, com a exploração de madeira e a pecuária.

1921 a 1950 - Da emancipação à Princesinha do Norte
A plantação de café transformou Colatina na maior produtora do grão do mundo. Nesse setor, a velha guarda da escola representou os grandes cafeicultores. O café, aliás, já foi enredo da MUG e resultou num dos sambas mais cantados e exaltados do carnaval capixaba. Entre os baluartes da MUG, destaque para dona Eurides Luiza de Souza Moreira, com 76 anos.

Os lavoureiros, trabalhadores que colhiam os grãos de café, inspiraram a fantasia do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcos Vinicius Cordeiro e Lyvia Ferreira.

A riqueza produzida pelos cafezais, o ouro verde, deu origem à segunda alegoria da escola, que era quase um convite a um cafezinho, com xícaras, bule, flores e a torrefação do grão que mudou o cenário da cidade.

1950 a 1970 - Era Industrial: a capital da moda capixaba
Com a crise do café, a economia da cidade precisou se reinventar. No processo de industrialização, vieram as fábricas e confecções.

Os alfaiates ganharam uma ala só para eles, seguidos pelo casal mirim de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Felipe Bragança e Mirella Falcão, alfaiate e costureira.

Os setores de saúde e educação da cidade, com investidores com projeção para além de Colatina, também foram lembrados pela escola.

O segundo tripé, "A revolução das máquinas", reforçou o setor têxtil, que ainda hoje é um dos mais fortes na economia do município.


1970 aos Dias Atuais - Colatina, o eldorado onde a arte é engrenagem
Tradições artísticas e culturais da cidade deram o tom do último setor. A viola caipira, enaltecida pelo maior festival da região Sudeste, o Fenaviola, eternizou o som tão característico do interior do país.

A festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da cidade, também foi representada, bem, como a Festa do Cafona. O carnaval colatinense, com blocos e agremiações que desfilam na Avenida Beira Rio, foi levado ao Sambão do Povo, com uma coleção de estandartes.

Encerrando o desfile da MUG, o terceiro carro fazia uma alusão a uma cidade diversificada e repleta de pluralidade, além do centenário de emancipação, comemorado em 2021. Resta saber se os encantos das terras colatinenses gabaritaram os quesitos avaliados pelos julgadores.

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